07 maio 2009

Episódio A Rainha das Abelhas



Este episódio remete às antigas raízes lobatianas, às reinações de Narizinho, quando a menina se pendurava na jabuticabeira, com Rabicó em baixo, abocanhando caroços que sobravam. Havia vespas em quantidade, especialmente quando as jabuticabas estavam doces como mel. As vespas escolhiam as melhores frutas, furavam-nas com o ferrão, e enfiava meio corpo dentro da jabuticaba, e ali deixavam-se ficar, sugando até caírem bêbadas Numa tarde, uma das vespas mordeu a língua de Narizinho, que cuspiu o naco da fruta, deixou-a cair, e gritou desesperada de dor, sendo logo socorrida por Tia Nastácia. Esta conseguiu arrancar o ferrão da mordedura, mas da vespa nem sinal.
Em seguida ao incidente, Emília sumiu, e, quando voltou, estava molhada de orvalho.Disse que tinha ido assistir ao enterro da vespa. Quando Narizinho gritara, berra do que nem bezerro, com a língua de fora, a vespa ainda ficou meia hora dentro da casca da jabuticaba, toda arrebentadinha. Até que morreu. Vieram então as formigas cuidar do enterro, primeiro arrancando a vespa morta de dentro da fruta, levando a defunta até a cova, no formigueiro, onde seria sepultada. Em seguida veio um besourinho, que leu um longo discurso na presença das outras vespas amigas da morta. Depois, uma delas ficou um letreiro no montinho de terra da cova, com os dizeres: “Aqui nesta buraco jaz uma pobre vespa assassinada na flor dos anos pela menina do narizinho arrebitado”.
Bem perto dali, numa colméia num oco de pau do mesmo pomar, a tragédia foi muito comentada pelas abelhas. Elas andavam em guerra com as vespas, que com elas disputavam
Território nas árvores frutíferas. A rivalidade decorrente dos interesses comunbs gerou o ódio de umas contra as outras. Na colméia de que falo, a Rainha Bê, gorda matriarca, fora comlepida por suas abelhas guerreiras a preparar um ataque à colônia mais próxima, justamente aquela da jabuticabeira onde uma delas ferrara a língua de Narizinho. Os esquadrões se prepararam para a luta, aguardando apenas parar o vento.
Irritadas com a espera, as operárias guerreiras exigem da Rainha Bê outra estretégia. Decidem mandar alguém como isca até o vespeiro atrair as inimigas a uma emboscada junto à própria colméia. Não sendo conveniente sacrificar uma operária ou algum zangão reprodutor, a escolha recai, contra o desejo da Rainha Bê, sobre uma larva adolescente, uma das mais queridas filhas da Rainha. Essa larva era a doce e casadoira IFIGÊNIA, que ainda não sabe qual será seu futuro: tornar-se operária ou rainha. Na incerteza, enquanto aguarda, e ignorando a trama. IFIGÊNIA toma geléia real, conversando com NAIR, uma abelhinha jovem e gorducha que cuida dela. É quando chega a notíca de que sua mãe resolveu prepará-la para o casamento. Está aí: ela seria também Rainha, e sua primeira incumbência será sair em um longo vôo nupcial à procura de um noivo que a fecunde, para que possa dar início a uma nova geração, a uma nova colméia. Isso na versão oficial. IFIGÊNIA acredita e zumbe de alegria, desconhecendo a matreira e traiçoeira decisão da colméia, que é de atirá-la às feras lá fora, isto é, ao ferrão das vespas.
Essa história, contada dessa forma, é uma adaptação de uma antiga tragédia grega, criada por Eurípedes, que nos fala de gregos em guerra, sob o comando do general Agamenon, quando se preparavam para atacar os troianos. A tropa grega se reuniu e Áulida, mas demoarav a partir por causa dos ventos que se dificultavam a navegação. Um adivinho sugeriu, então, que se sacrificasse a bela Ifigênia , filha de Agamenon, à deusa Ártemis, dizendo que dessa forma os ventos se acalmariam. Desconmsolado, mas coagido a atender fúria de seus comandados, Agamenon mandou chamar Ifigênia para o sacrifpicio, enganando-a com o pretexto de que ia casa-la com Aquiles.
Enquanto a colméia se agita no meio desses conflitos, parecidos com o da tragédia de Eurípedes, Narizinho dorme. No dia seguinte, depois do café, foi junto com o Visconde levar Emília para pescar no ribeirão, fez um anzol para a boneca usando um gafanhoto como isca, e arrumou Emília na margem , com uma pedra no colo para não cair na água. Mesmo assim, quando um peixe fisgou o anzol, a boneca caiu no rio. Com a ajuda do Visconde de Sabugosa, Narizinho a fisgou com uma vara. Emília voltou à margem trazendo uma traíra de reboque, peixe que Tia Nastácia acabou fritando para o almoço. Para secar Emília, Narizinho pendurou-a num varal do pasto, e ficou junto à espera, sempre pensando enquanto esperava, sentindo a falta de Pedrinho, e achando que felizmente as férias do primo já começaram e ele logo irá chegar ao Sítio.
Narizinho esperava Emília secar e observava no chão formiguinhas ruivas em seu corre-corre. Emília disse que entendia o que as formigas conversavam: Traduziu a conversa de várias delas, inclusive que uma delas tinha avisado a outra de uma minhoca que acabara de ser capturada perto da porteira. Sem acreditar no que Emília dizia, Narizinho foi verificar.
Nesse mesmo momento, Zé Carneiro e João Perfeito comunicavam a Dona Benta que, como ela ordenara depois do acidente com Narizinho, a jabuticabeira estava livre das vespas, pois ele havia dado fim ao vespeiro que lá havia, extermínio que estava justamente sendo comemorado na colméia da Rainha Bê. O zangão ORESTE, filho da Rainha e irmão de IFIGÊNIA, embora nada importante na colméia como são todos os zangões, sentiu-se muito com essa destruição da colônia inimiga, e aproveitou para pedir que a mãe poupasse IFIGÊNIA do plano que lhe estava reservado. Mas de nada adiantou sua insistência, pois seu prestígio de zangão era nenhum.
Quando Narizinho chegou à porteira, espantou-se. Era mesmo verdade o que Emilia dissera ter ouvido das formigas. Lá estava a minhoca prisioneira, com diversas formiguinhas lhe ferrando o lombo, sem que a coitada, já moribunda, conseguisse se livrar. Antes que Narizinho pudesse salvá-la, a minhoca morreu, e as formigas a arrastaram para a entrada do formigueiro. Narizinho então voltou para contar tudo a Emília, enquanto a tirava do varal.
Mas logo João perfeito descobriu outras colônias de vespas começavam a nascer no quintal. Uma má notícia para as abelhas que já estavam comemorando a desrtruição das inimigas. Com o reaparecimento dos vespeiros, as operárias-guerreiras insistem em exigir à Raiunha que retome os planos de ataque, inclusive a emboscada planejada na qual seria sacrificada IFIGÊNIA. Não era possível voltar atrás. NAIR descobre os planos e corre a contar à sua amiga. IFIGÊNIA chora muito com o fato de sua própria mãe te-la enganado, mas afinal se conforta decidida a ser heroína a se sacrifucar por seu povo. E quando a Rainha Bê está reunida com seu Conselho, IFIGÊNIA surge diante dela, em trajes de luto, oferecendo-se voluntariamente para o trágico vôo nupcial.
De noite, no quarto, Narizinho voltou a falar no assunto da minhoca e na habilidade de Emília em entender a fala das formigas. De repente, alguém bate à porta, Narizinho abre, e dá com uma formiga ruiva, de saiote vermelho e avental de renda, trazendo uma salva de prata coberta por um guardanapo. A formiga apresentou-se:
- Quero entregar à senhora Condessa de Não-me- Toques este presente mandado pela Rainha das Formigas.
Emília entendeu que era com ela, e foi pegar o presente, que eram croquetes tostadinhos de minhoca, que ela agradeceu, retribuindo a gentileza com uma perna de mosquito que foi pegar na testa de Tia Nastácia. Tirou a pernminha, enfeitou-a com um laço de fita, embrulhou-a em papel de seda, e colocou na salva com um caetão que dizia: “À Sua Majestade a Rainha da Cintura Fina, oferece sua humilde criada, a Condessa de Não-me-Toques.”De quebra, gratificou a portadoira com outro pernil de pernilongo, que a mensageira agradeceu, partindo feliz da vida.
Na manhã seguinte, Pedrinho chega, trazido da estação por Zé Carneiro. Recebeu muitas homenagens e trouxe presentes para todos, inclusive um broche dourado em feitio de abelha, que deu a Dona Benta. Em seguida, foi pendurar a bandeira nova que trouxera para o mastro de São João. Estavam festejando, quando chegou um maribondo com um convite: “Sua Majestade Bê, a Rainha das Abelhas, dá-lhes a todos a honra de convida-los para uma visita a seu Reino.”
É que, na colméia, a Rainha Bê preparava uma grande festa de despedida para IFIGÊNIA, antes que ela partisse, e lembrou-se de convidar aquela menina do Sítio, aquela que matara a vespa na jabuticabeira. Foi ORESTE, o zangão, que se incumbiu de enviar um maribondo com o convite para Narizinho.
Só que, quando o convite chegou, parte do convite veio rasgado, sem que se pudesse saber de que Rainha era o convite: das formigas, das abelhas...ou das vespas. Narizinho ficou preocupada., mas, na dúvida, resolveu pegar uma borboleta e mandar por ela um borboletograma com uma mensagem dizendo: “Narizinho e a Condessa agradecem a honra do convite e prometem não faltar. Irá conosco também o menino Pedrinho, mais conhecido como Conde dos Bigodes da Manga.” Emília soltou a borboleta,sem preocupar-se de dizer aonde entregar a mensagem, pois achava as borboletas sabidíssimas e capazes de não errar o endereço.
De fato, a borboleta logo entregou a mensagem à Rainha Bê, que ficou satisfeitíssima, e mandou apressar as providências da festa de consolo para IFIGÊNIA, contra a vontade das guerreiras, que queriam lutar logo.
Pedrinho, Narizinho e Emília partiram na manhã seguinte, e na saíde convidaram ainda Zé Carneiro e o Visconde de Sabugosa. No caminho, foram assaltados por bandoleiros. Zé Carneiro fugiu, mas Emília foi obrigada a entregar aos bandidos um pouco de macela amarela de sua perna, que ela enganou que era ouro em pó. Manca, de perna meio vazia, ela prosseguiu viagem com os outros, que foram, recebidos com mil homenagens no País das Abelhas. Logo ficaram sabendo da guerra que ia ser travada com as vespas, que estavam ainda furiosa com Narizinho. As abelhas providenciaram uma muletinha para Emília, e estavam esperando conhecer IFIGÊNIA no salão do favo,. Quando chegou uma libélua com um pedido de socorro de Zé Carneiro, que afinal tinha sido capturado e mantido em cativeiro pelos bandoleiros, que, para liberta-lo, exigiam um resgate. Mandaram um balde de mel, e Zé Carneiro viu-se livre do perigo.
A cambadinha ficou muito emocionada ao tomar conhecimento do drama de IFIGÊNIA, e , dispostos a ajudá-la, tiveram uma idéia: na hora da cerimônia em que IFIGÊNIA iria partir para o vôo nupcial, substituiriam a infeliz pelo broche dourado, em feitio de abelha, que Pedrinho tinha dado a Dona Benta (na lenda de Eurípedes – Ifigênia em Àulida – Ártemis para salva-a, trocara Ifigênia por uma corça). Na hora aprazada, encontrando o broche, a colméia acreditou que a larva IFIGÊNIA, por algum milagre, tinha se transformado naquilo. Quem ficou decepcionado diante do broche inanimado, que julgou ser sua amada IFIGÊNIA, foi o galante AQUILES. Aproveitando-se da confusão, IFIGÊNIA foge, às ocultas, da colméia, com a ajuda de Emília e Narizinho.
Por azar, IFIGÊNIA vai parar justamente no País das vespas, semelhantemente ao que ocorrera com sua homônima na tragédia grega, que fora dar com os costados em Táurida, onde tornou-se sacerdotisa, obrigada a sacrificar tudo quanto era estrangeiro que ali chegasse. As vespas também lhe deram ofício idêntico, satisfeitas em capturar uma abelhazinha ainda destreinada, sem ferrão, e que nem mel sabia fazer.
Também como na tragédia de Eurípedes, o irmão de IFIGÊNIA e um amigo (aqui ORESTE e Pedrinho), desembarcam em Táurida em busca de aventuras (aqui os dois chegam ao País das Vespas em busca da abelhinha desaparecida). Importante assinalar que, neste nosso episódio, a colônia onde fora aprisionada IFIGÊNIA fica numa viga da venda do Elias Turco.. Enquanto isso, Narizinho, Emília e o Visconde de Sabugosa continuam visitando o País das Abelhas, hóspedes da Rainha Bê, distraindo-se no interior da colméia. O Visconde se distrai fazendo pesquisas, descobrindo maravilhas.da vida das abelhas, descobrindo os segredos de sua organização, sua arquitetura interna, chocando Narizinho com a revelação de que os zangões são condenados e executados após seu casamento, pois não sabem trabalhjar e só servem para a reprodução. A essa altura, todos na col~meia já sabiam que o broche era uma mistificação, e que IFIGÊNIA estava prisioneira das vespas.
Infiltrados na colônia das vespas,. Pedrinho e ORESTE acabam capturados como invasores, e condenados ao sacrifício justamente nas mãos da sacerdotisa IFIGÊNIA. Esta não sabe que ORESTE é,. Na verdade, seu irmão, filho da Rainha que nem ela. Quando descobre isso- exatamente como na tragédia grega – ela cOnvence o manda-chuva do vespeiro a purificar os estrangeiros antes de mata-los. Inventa uma história sobre um certo rio onde eles deveriam ser banhados, e as vespas resolvem leva-los até lá sob estrita vigilância. Chegando lá, Pedrinho mergulha no rio e foge ao ataque das vespas. Ao segui-lo,. ORESTE quase se afoga. IFIGÊNIA também os segue, escondida, e quase morre nas águas; O manda-chuva das vespas esbraveja indignado ao descobrir que foi enganado. Mas é tarde, pois os três fugitivos escaparam, e fugiram para a colméia.
No País das Abelhas, a Rainha Bê recebe os três com grande alegria, chamando Narizinho, Emília e o Visconde para abraça-los. IFIGÊNIA, logo deverá realizar o vôo nupcial normal, pois está na hora de tornar-se Rainha de uma nova colméia, que o Visconde se oferece para mandar instalar no Sítio. AQUILES é quem se candidata a marido.
A cambada despede-se de suas hospedeiras, e voltam ao Sítio levando pequenos potes de cera contendo mel, para oferecer a Dona Benta e a Tia Nastácia. Quando chegam lá, uma triste notícia os espera. A Cuca tinha andado pelo Sítio e transformado Tia Nastácia numa galinha d`Angola, e Dona Benta em tartaruga. Esses males, no entanto, logo foram resolvidos e reparados ao final desta nossa história.


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